sábado, 17 de setembro de 2011

Kant e a escola



É por isso que se mandam as crianças à escola: não tanto para que aprendam alguma coisa, mas para que se habituem a estar calmas e sentadas e a cumprir escrupulosamente o que se lhes ordena, de modo que depois não pensem mesmo que têm de pôr em prática as suas ideias.

 Paradoxo Cultural


Singular paradoxo tem sido registrado por último no ambiente cultural brasileiro, especificamente, no campo literário. Apesar de vendidos razoavelmente nas livrarias, os livros de grandes autores, clássicos e modernos, não são lidos por seus adquirentes, que geralmente compram as obras apenas quando as mesmas são indicadas para vestibulares ou, simplesmente, exigidas em currículos escolares de todos os níveis. Ou seja, a aquisição do livro não significa necessariamente a leitura de seu conteúdo nem o aproveitamento intelectual.

Essa contradição não chega a causar espécie em meio aos estudiosos da realidade nacional na área da literatura, pois já foi comprovado à exaustão, através de reiteradas pesquisas, o pouco apego do brasileiro ao hábito de ler, sobretudo obras mais eruditas ou complexas, rotuladas de "difíceis", quando na realidade requerem apenas um pouco mais de gosto da leitura e capacidade de assimilação.

Em um País onde se registram elevados índices do chamado "analfabetismo funcional", no caso de pessoas que sabem ler, mas, por falta de um eficiente aprendizado que as oriente no campo da compreensão de um texto, não conseguem entender sequer o conteúdo de um parágrafo, questiona-se como se dá ao mesmo tempo a proliferação de livrarias e o aumento registrado nos índices de vendas.

Essa realidade se explicaria por causa da predominância do chamado "leitor médio", voltado exclusivamente para a literatura superficial de entretenimento, geralmente concentrada em livros de autoajuda, de curiosidades, ou de proselitismo religioso. Esses leitores formam uma legião importante. Mas o lamentável é que os escritores de melhor nível são comumente alijados da preferência do grande contingente de leitores, circunstância que os estudiosos atribuem ao baixo nível da educação, perante o qual o modo de se expressar de autores como José Saramago, Guimarães Rosa e Clarice Lispector são considerados quase como "língua estrangeira". Embora o mundo da cultura, em seu espectro mais amplo, tenha evoluído bastante nos últimos tempos, em decorrência das inovações tecnológicas que possibilitaram mais fácil acesso às pesquisas através da Internet, essa expansão não alcançou o cerne do saber, somente possibilitado pela leitura dos grandes ensaístas, filósofos e ficcionistas. Avanços notórios nas áreas da informação científica, da produção artística, e da própria vida política obtiveram sensível margem de desenvolvimento, mas, sob outro ângulo, apequenou-se o estímulo ao aperfeiçoamento da linguagem e tornaram-se ainda mais impraticáveis os esforços despendidos para estimular o hábito da boa leitura. Por isso, são louváveis iniciativas como a da realização da Feira do Livro Infantil de Fortaleza, que lotou a Praça do Ferreira nos últimos dias.

O quadro se torna ainda mais preocupante quando são levadas em conta as agressões às quais se tornaram vulneráveis crianças e adolescentes, com formas invasivas de massificação que incluem desde violentos videogames e filmes a um tipo de literatura bastante difundida, e atualmente em franca ascensão, que é pretensamente destinada às crianças, mas, na realidade, acrescenta inadequados e distorcidos incentivos ao processo mutante de um caráter em formação.

sábado, 3 de setembro de 2011